quarta-feira, 27 de julho de 2011

Prólogo

Estava bem escuro naquela noite, a lua não aparecia como de costume, apenas era possível ver pelas frestas das portas pequenas luzes de velas. Naquele tempo, a energia elétrica era apenas um estudo nas mãos de Willian Gilbert.

Era o ano de 1600, e apesar de toda aquela escuridão, dentro de uma específica casa a luminosidade era maior. Grande parte dos quartos tinha velas acesas que eram possíveis ser vistas, mesmo com as cortinas fechadas. Geralmente quando as casas ficavam naquela situação era motivo de festa na pequena Amber. Mas naquela noite a festa era por outro motivo e de uma forma não convencional.

Dentro da residência estavam apenas mulheres, todas usando vestidos pretos longos de mangas compridas. Elas também usavam grandes véus que cobriam seus rostos. Uma delas usava uma espécie de coroa na cabeça, talvez ela fosse a líder, mas era impossível descrever qualquer outra coisa, pois todas estavam ajoelhadas em círculos e permaneciam em silêncio. Foi quando uma delas disse:

- Hoje estamos aqui para celebrar o nascimento. Há exatamente cinqüenta anos, não existe o nascimento de um homem nessa cidade. Por isso queremos reverenciar aos anciões pelo sinal recebido.

- Oshaman. – Disseram todas em um único som aquela palavra, que parecia ter um sinal de agradecimento.

De acordo com a vestimenta das mulheres, e as palavras profetizadas por aquela que parecia ser a líder do grupo, aquilo não tinha nenhuma relação com uma igreja, ou algum tipo de culto voltado a coisas boas. Se fosse nos tempos de hoje, elas poderiam ser julgadas como bruxas ou algo muito pior.

- As almas me dizem que o momento está chegando. – A líder apontava para a mulher com a coroa. – Minha querida Doroth, se prepare para receber o nosso mais novo membro, pois a hora do nascimento está próxima.

Todas as mulheres ficaram eufóricas, e ao mesmo tempo tentavam se controlar. A única que parecia estar mais calma, era Doroth.

Foi então que a líder se levantou, e foi na direção de Doroth. Quando ela chegou próxima, novamente se ajoelhou na frente da mulher, retirou sua coroa e o seu véu. Se aquela realmente fosse uma reunião de bruxas, elas não eram nada como geralmente conhecemos. Pois aquela mulher era linda. Seus olhos eram negros, sua pele bem branca, e seus cabelos também eram bem negros. Sua aparência tinha uma mistura de tranqüilidade, e ao mesmo tempo ela transmitia uma espécie de maldade nos olhos.

A líder colocou a mão na barriga da mulher e começou a profetizar algumas palavras estranhas. As outras mulheres também diziam palavras que eram difíceis de entender, cada qual dizia de uma forma diferente e tentava falar mais alto que a outra. Foi quando a líder apontou para uma das mulheres e disse:

- Corra que a criança está nascendo. Vá imediatamente chamar o Coronel Albert.

A mulher se levantou abriu a porta e correu pela escuridão a fora.

Enquanto isso em um celeiro um pouco longe dali, em um local bem isolado de pessoas, três homens conversavam. Um deles era bem magro, usava roupas sujas, parecia que tinha trabalhado o dia todo com elas, não tinha cara de bons amigos, alias nenhum deles tinha. O outro estava usando uma roupa mais elegante, podia se dizer que tinha saído de uma festa para aquele momento. E o terceiro, aquele parecia que tinha algo em especial, era um sujeito alto, cabelos curtos levemente grisalhos, usava roupas escuras, um chapéu que cobria parte do seu rosto tenebroso.

Foi então que se ouviu um gemido, e um quarto homem que também estava no local, chamou a atenção dos outros homens.

- Então resolveu falar, emitir algum som. – O homem de cabelos grisalhos olhou com fúria para o rapaz. – Espero que comece a falar, o mais rápido possível, o que eu quero saber.

Tanto o homem, quanto os outros dois permaneceram em silêncio.

- O amarrem pelo braço. Está na hora de começar o tratamento especial para o nosso convidado. – Disse o homem de cabelos grisalhos.

Pegaram o homem, que estava sem camisa e já tinha varias marcas pelo corpo, parecia que já tinha sofrido muito, amarram seus braços, e o levantaram, o deixando cara a cara com o homem de cabelos grisalhos.

- Eu...já....disse o que.....eu.... sei. – O homem tentava falar com muita dificuldade.

Ele estava muito debilitado, parecia que não tinha mais forças para dizer ou fazer mais nada. Estava desistindo da vida, não importava mais o que ele pudesse dizer ele sabia com quem estava lidando, e o quanto aquelas pessoas podiam ser cruéis.

De repente, uma voz feminina e cansada veio da escuridão, gritando:

- Coronel Albert, seu filho está nascendo. Você precisa voltar para sua casa imediatamente.

O homem de cabelos grisalhos sem pensar duas vezes, correu em direção a alguns cavalos que estavam parados do lado de fora do celeiro, montou em um dos cavalos e disse:

- Utilize o acido e se ele não falar mais nada, podem matá-lo. Ele não serve de mais nada para nós.

E em um piscar de olhos ele saiu em disparada à escuridão da noite.

Do lado de fora da casa, os gritos de Doroth podiam ser ouvidos. As outras casas ao redor permaneciam em silêncio, com apenas o barulho de algumas janelas, se fechando. Como em um filme de terror, as pessoas pareciam estar com medo de alguma coisa que estava por vir.

Dentro, Doroth estava perto de dar a luz para seu filho, quando ela ouviu o cavalo de Albert se aproximando.

- Albert, meu amor, nosso filho. – Gritava Doroth ofegante.

- Calma. Você sabe que ele ainda não pode entrar. Concentre-se no trabalho de parto, seja forte, ele já está a caminho, falta muito pouco. – Disse a líder.

Todas as outras mulheres continuavam pronunciando varias palavras.

Do lado de fora o coronel Albert desceu do seu cavalo e ficou parado na porta. Ele podia ouvir as mulheres e os gritos de sua esposa. Mas também sabia que não podia atrapalhar aquele momento. Ficou aguardando, esperando ser chamado.

Alguns minutos se passaram depois de um grande grito de Doroth, o choro de uma criança pode ser ouvido.

- É um menino, o sacrifício deu certo. Nasceu um saudável menino, finalmente depois de cinqüenta anos. – A líder parecia agradecer a alguém

Na varanda da casa, aquele homem que parecia ser o mais temível e cruel, ficou em silencio e uma lágrima pode ser vista correndo pelo seu rosto. Para ele, aquele momento era um dos mais felizes de sua vida.

Foi quando a porta se abriu e a líder ainda com o véu no rosto, disse:

- Coronel Albert, você pode entrar para conhecer seu herdeiro, antes de limparmos tudo.

Quando o coronel entrou, não olhou para a criança, mais sim para sua esposa que estava caída no chão. E mais um lágrima pode ser vista no seu rosto. Ele sabia que aquela mulher, que um dia ele amou, era o sacrifico que a líder dizia. Então caminhou para perto de onde a criança estava e disse:

- Como você é lindo e parecido com sua mãe. Ela sabia exatamente que esse sacrifício foi feito para que no futuro você seja um grande homem. Aquele que há cinqüenta anos essa cidade não via. Como meu único herdeiro, eu o chamarei de...

Suas palavras foram interrompidas por um grande som de trovão e uma voz que vinha do lado de fora:

- Você não o chamará de nada, pois ele não será apenas seu herdeiro, será nosso.

Ele estava acompanhado de outros dois homens, todos eles vestiam roupas pretas, seus rostos eram inteiramente cobertos pelos panos pretos. Foi quando mesmo homem disse:

- Nossa missão é levar a criança. Aqueles que foram julgados impróprios para a educação de um ser, serão julgados e condenados, mais a pureza dos seus filhos terão melhor utilização dentro dos dominios negros do Inferno.

Albert não sabia o que fazer naquele momento, e sem pensar pegou o menino nos braços e correu para o fundo da casa.

Todas as mulheres que estavam naquela reunião, principalmente a lider, começaram a dizer as palavras estranhas.

- Suas estúpidas, com quem vocês pensam que estão falando? Acham que podem nos afetar com esses feitiços? – O mesmo homem dizia aquelas palavras com muita calma. – Nós não somos os fracos demônios que muitas de vocês já capturaram.

- A criança não pode ser levada, pois ela ainda é inocente, e os anjos a protegem. – Disse a líder.

Os homens começaram a rir.

- Bom, eles tentaram proteger a criança de vocês,porém os anjos foram mortos com seus feitiços de proteção contra nós. Enfim, vocês já fizeram todo o nosso trabalho. – O homem olhava fixamente para a direção da mulher, mesmo sem ver seus olhos ela parecia intimidada. – Para quem você acha que o sacrifício foi feito? O lado branco não aceita sacrifícios e muito menos bruxaria.

Os Três voltaram a rir e o homem que falava olhou para o que estava sua esquerda, que naquele instante desapareceu. A mulher líder gritou:

- Corram, ajudem o coronel. O demônio foi atrás da criança.

O outro homem que continuava calado, apenas estendeu um de seus braços para a líder, e naquele momento ela parou de falar, parecia que ele a queria dizer algo mais, mas nao conseguia pronunciar nada. A mulher colocou a mão na sua barriga, parecia sentir uma dor enorme e seu corpo começou sofrer alterações estranhas. Seu rosto começou a afinar, seus braços e suas pernas também. Era como se ela estivesse secando de dentro pra fora. Então sem forças para ficar de pé ela caiu, sem nenhum sinal de vida.

Aquele, que era o único que falava, não disse uma palavra, apenas olhou para as outras mulheres e elas tiveram seus corpos incendiados, e gritavam correndo de um lado para o outro. À medida que corriam para as casas, tudo começava a ser arrastado pelas chamas. Ouviam-se gritos dentro das casas onde muitos estavam morrendo, pessoas que não tinham culpa de tudo aquilo.

No fundo da casa, o coronel Albert preparava seu cavalo, para poder levar a criança em segurança. Mas foi surpreendido.

- Saia daqui sua aberração das trevas. – Disse o coronel. – Você não vai levar meu filho.

- É exatamente por isso que estamos levando essa criança, por ele ser seu filho. – Disse o homem. – Você é um homem que não merece ter a pureza dessa criança em seus braços. Essas mãos sujas que você usou para torturar tantas pessoas, não podem criar essa criança. Nós temos um propósito muito maior para ele. Você e sua mulher são dois sujos que serão julgados e vão pagar por toda eternidade, em um sofrimento eterno.

Naquele momento uma grande foice apareceu na mão do homem e em um movimento rápido cortou o coronel verticalmente, e rapidamente pegou a criança sem que ela caísse no chão, andando lentamente pela casa, que já estava em chamas.

Os outros dois homens esperavam do lado de fora, onde poucos gritos podiam ser ouvidos. O terceiro que carregava a criança nos braços caminhou em direção a eles.

Os dois homens que estavam com o coronel Albert chegaram de cavalo e viram aqueles três homens parados. Um deles, os que se vestia melhor quando, foi descer do cavalo, parece que teve o mesmo destino da líder, tendo seu corpo totalmente apodrecido. O outro que era um homem mais magr,o ficou desesperado e tentou fugir, mas parecia que seu cavalo não obedecia ao seu comando. Foi quando um dos três homens, o que matou e incendiou as bruxas disse:

- Você viverá porque será nosso mensageiro. Avise a toda a população o que você viu hoje. Essa é a primeira, das várias crianças que estarão conosco.

Em um movimento rápido, todos os três desapareceram, apenas deixando o rastro de destruição.

Naquela mesma noite o homem correu em desespero para a cidade mais próxima. Tentou contar para as pessoas o que tinha acontecido e visto. Muitos foram para Amber e quando voltaram, acusaram o homem de bruxaria, não acreditando no que ele tinha visto. No dia seguinte, ele foi queimado em uma fogueira, guardado aquela verdade nos seus pensamentos.

Resumo

Tudo que ele não esperava, não podia, e que não era permitido a ele, mudou, desde que ele a encontrou. Seu rosto era lindo, sua pele era branca e seus lábios tão vermelhos que ele apenas sentia vontade de beijá-la. Aquela garota, que se destacava na escuridão da noite o atraia, mesmo sabendo que se chegasse perto dela, poderia ser caçado e morto. Desde o dia que ele a viu, não conseguia parar de segui-la, e a obsessão de vê-la era muito maior do que qualquer regra a ser obedecida. De alguma forma ela trazia tranqüilidade aquela alma condenada à escuridão. Ele estava ao ponto de desafiar as duas maiores forças do universo, o Céu e o Inferno.